Setor elétrico do Amazonas terá R$ 6 bilhões em investimentos, anuncia Eduardo Braga
A arte de brigar com os fatos da seca
Um festival de declarações insensatas se seguiu ao apagão de janeiro – como ocorrera, em 2014, com a falta de água em São Paulo
MARCELO MOURA E VINICIUS GORCZESKI, COM HARUMI VISCONTI
16/03/2015 15h40 - Atualizado em 16/03/2015 15h59
Que houve sequência de desligamentos é fato. Que não houve falta de energia no país é algo desmentido pelos fatos. No dia seguinte ao apagão (19 de janeiro), o Brasil passou a importar eletricidade da Argentina durante o período de pico no consumo de energia, entre 10 horas e 17 horas. Chegou a importar 998 MW – suficientes para abastecer 2 milhões de pessoas (Leia sobre isso no balanço do Operador Nacional do Sistema Elétrico, ONS, aqui). Os dois países têm desde 2006 um acordo de parceria - que você pode conferir neste link -, pelo qual um pode emprestar energia ao outro. A importação está prevista, mas não é, como afirmou em nota o ONS, algo “normal e corriqueiro”. A última vez em que o Brasil importou eletricidade da Argentina foi dezembro de 2010. É menos normal e corriqueiro do que a Copa do Mundo, que ocorre a cada quatro anos (Aqui estão os valores importados pelo Brasil à época).
O ministério tentou negar as consequências desastradas do corte abrupto de energia. A ViaQuatro, concessionária que administra a linha de metrô que parou de funcionar, diplomaticamente informou o óbvio: que a interrupção, simultânea ao corte de eletricidade, deveu-se a um problema externo, algo que pode ser lido neste link.
A frase já é contraditória em si e mostra uma pretensão perigosa. “Quem garante 100% de segurança no sistema elétrico está mentindo”, afirma Luiz Pinguelli Rosa, presidente da Eletrobrás entre 2003 e 2004 e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “As linhas de transmissão têm extensão continental, sempre sujeita a falhas, e a falta de chuvas aumenta a incerteza.” A falta de chuvas no início de 2015 diminuiu a capacidade de geração das usinas hidrelétricas em todo o país, especialmente na Região Sudeste, onde o consumo é maior (confira os níveis dos principais reservatórios) . Em janeiro, das 18 hidrelétricas do país, 17 já estavam com o nível de seus reservatórios abaixo do que estavam em 2001, quando o Brasil precisou fazer racionamento (leia a série histórica). A participação de usinas termoelétricas, menos confiáveis, subiu do patamar histórico de 20% para 40%. É importante ressaltar que, desde 2001, o país diversificou suas fontes de geração de energia, com grande aumento no número de usinas termoelétricas, eólicas e solares..
A Usina Hidrelétrica de Santo Antônio só entrou em operação em março de 2012. O prazo de conclusão foi adiado para o ano que vem. “Quando estiver concluída, em 2016, Santo Antônio terá 50 turbinas em operação”, informa aqui o site do Programa de Aceleração do Crescimento. Outras grandes usinas, como Jirau, Belo Monte e Angra 3, também estão com andamento atrasado. “Se os prazos de conclusão das obras fossem cumpridos, o país teria capacidade de geração cerca de 15% maior, suficiente para reduzir o uso de pequenas termoelétricas, baixar o custo da energia e evitar interrupções no fornecimento”, diz Pinguelli.
Em campanha pela reeleição, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi taxativo ao negar a possibilidade de racionamento. Foi uma afirmação danosa para um Estado que precisava poupar água com urgência. Desde 2011, o reservatório do Sistema Cantareira, responsável por quase metade do abastecimento da região metropolitana de São Paulo, terminava o ano com saldo negativo. Em maio de 2014, pela primeira vez, foi necessário recorrer ao volume morto – uma reserva técnica.
Passada a eleição, Alckmin diz a verdade. São Paulo aprovou a cobrança de sobretaxa a quem gastar água acima da média – iniciativa complementar ao desconto oferecido a quem economizar. Com chuvas abaixo da média também em 2015 (como mostra este relatório), São Paulo corria o risco de ficar sem água até o fim do verão. A previsão sombria pode ter sido adiada graças à bondade de São Pedro, e suas chuvas de fevereiro (com elas, o Sistema Cantareira dobrou o nível de sua capacidade, para 11,7%, ao somar-se o nível negativo do volume útil com a primeira cota da reserva técnica). Apesar dessa alta, o nível do sistema ainda é preocupante. O novo presidente da Sabesp, Jerson Kelman, prometeu informar no site da companhia os horários de pressão mais baixa na rede, quando os bairros ficam sem água (confira, numa página criada por ÉPOCA, a situação do seu bairro aqui). “É evidente que, na crise atual, a Sabesp não tem como prestar o serviço como se a situação fosse de normalidade”, diz Kelman. “Não é sensato brigar com os fatos.” Finalmente, o óbvio.
No mesmo dia 6 de outubro, a Sabesp, companhia de água do Estado, subordinada ao governador, anunciou que recorria à segunda reserva técnica – ou segundo volume morto (confira os níveis do Sistema Cantareira).
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
CONSULTOR DIZ QUE PARAGUAI É AMEAÇA REAL À ZFM E SUGERE IMPLANTAÇÃO DE FERROVIA COMO SOLUÇÃO PARA BR-319 - ITACOATIARA ESTÁ NO GAME !
Foto: Dayse Nunes / Portal do Zacarias
Fábio Lampert: “Cabe uma ferrovia de alta velocidade na questão da BR-319, capaz de transportar cargas e até passageiros, em uma velocidade maior. É uma questão de custos"
Há dois anos longe de Manaus, onde atuou na Sony, na Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam) e no Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), o gaúcho Fábio Lampert, hoje radicado em Curitiba, servindo à Stefanini, empresa de consultoria na área de tecnologia da informação e gestão de negócios, diz que o PIM vive um momento de instabilidade preocupante. “Os polos relojoeiro e termoplástico sofreram quedas preocupantes, o polo de duas rodas também está pelas tabelas. O polo eletroeletrônico vai mal por causa de uma questão de mudança cultural”, adverte, chamando a atenção para necessidade de renovação do modelo ZFM.
Por J Taketomi, editor de Política do PORTAL DO ZACARIAS
PORTAL DO ZACARIAS – O governador José Melo acaba de reassumir o governo anunciando um plano estratégico de desenvolvimento que, dentre outras coisas, pretende mudar a geografia econômica do Estado, investindo na duplicação da Estrada AM-010 e transformando o Porto de Itacoatiara em referência portuária na região Norte. Essa é a estratégia certa para o Amazonas?
Fábio Lampert – Alguns estados brasileiros já tiraram seus principais portos das capitais, colocando-os em regiões limítrofes de suas áreas metropolitanas. Isso é extremamente positivo, pois é um movimento de atualização, inclusive tecnológica. A estrutura do Porto de Manaus está ultrapassada e requer um investimento muito grande. O governador José Melo, então, está correto ao investir no Porto de Itacoatiara. Ele faz seu movimento de atualização. A área do Porto de Itacoatiara, na beira do Rio Amazonas, recebe navios de grande calado de forma perene. Eu sugiro que o governador, além da duplicação da AM-10, pense também na construção de uma ferrovia, a exemplo do que existe em Paranaguá, no Paraná, onde as cargas mais pesadas são escoadas por ferrovia. A ferrovia é um meio de transporte eficiente e barato.
Portal – A ferrovia não seria, igualmente, a solução para o problema do asfaltamento de um trecho de 400 quilômetros da BR-319 (Manaus-Porto Velho), fonte de polêmica que se arrasta há anos por implicar questões ambientais que nunca se resolvem?
Fábio – Sim, cabe uma ferrovia de alta velocidade na questão da BR-319, capaz de transportar cargas e até passageiros, em uma velocidade maior. É uma questão de custos. Europa, Estados Unidos e Canadá não abandonaram as ferrovias, uma excelente opção de transporte de baixo custo barato de carga. O Estado do Amazonas economizaria muito com uma ferrovia, que eliminaria frotas e mais frotas de caminhões movidos a diesel. O petróleo é caro e poluente, e, logo, a ferrovia rodovia se impõe por ser uma solução verde e mais econômica.
Portal – Os empresários do Polo Industrial de Manaus exigem, das autoridades estaduais e federais, providências imediatas em termos de logística de transporte, sob pena de o PIM definhar mais do que já está ocorrendo. Como o senhor vê essa questão?
Fábio – Em primeiro lugar, o PIM está muito pressionado pelo desenvolvimento muito acelerado da China. E existe agora o fator Paraguai, que não está sendo muito badalado na imprensa de Manaus, mas é uma ameaça real ao PIM. O Paraguai, que está crescendo muito do ponto de vista industrial, abriga 123 empresas brasileiras que importam produtos sem pagar nenhuma taxa e os exportam para o Mercosul.
Portal – Isso é uma ameaça real à Zona Franca de Manaus.
Fábio – Sim, é uma ameaça real que está sendo fortemente observada pela Federação das Indústrias do Paraná e pela Federação do Estado do Mato Grosso que já enviaram comitivas de empresários para verificarem possibilidades de investimentos no lado paraguaio. A indústria sulista está pressionada e procura novas alternativas para vender produtos a custos mais baixos e manter sua competitividade no cenário internacional. O Paraguai é uma saída para essa indústria, e um outro país que caminha nesse sentido é o Uruguai. O Paraguai tem a vantagem da energia, tem a Hidrelétrica de Itaipu. Ele não tem porto, mas tem aeroporto e energia elétrica de sobra, e tem baixa carga tributária. Também conta com boa mão-de-obra, próximo que é de estados como Paraná e São Paulo, sem contar os brasiguaios, cerca de 300 mil brasileiros que vivem no Paraguai. À medida em que mais empresas se instalam lá, mais pessoas migram em busca de empregos. A fronteira é aberta. Isso acaba sendo uma ameaça séria ao modelo ZFM.
Portal – Antes, se falava no Paraguai apenas por causa do seu “importabando” a partir da fronteira Foz do Iguaçu/Ciudad Del Este. Mas, agora, o Paraguai se apresenta como um agente de real perigo às vantagens comparativas da nossa ZFM?
Fábio – Sim. Horácio Cartes, que é o atual presidente do Paraguai, tem uma visão empresarial e está mostrando que quer transformar o país num local de investimentos. O Paraguai mantém acordo de preferência comercial com a União Européia e está firmando outro com os Estados Unidos. O plano é transformar o Paraguai numa plataforma de exportações no Mercosul. Não devemos esquecer que recentemente Cartes esteve em Brasília, acompanhado de seus ministros, e recepcionou mais de 170 empresários brasileiros em evento promovido na capital paraguaia. No evento, o presidente cumprimentou a todos pessoalmente e deixou claro que quer saber onde queremos investir e de que forma desejamos fazê-lo. Adicionalmente, também há uma atividade agrícola importante envolvendo os ‘brasiguaios’. Lá no Paraguai há plantações de soja, algodão, menta e capim-limão, que é nosso conhecido capim-santo. Desse capim é extraído o óleo de citronela, utilizado para toda a indústria cosmética e farmacêutica. Ele é largamente consumido e o processamento desse óleo é feito dentro do Paraguai. O óleo é acondicionado em tambores de aço inoxidável e exportado para várias partes do mundo. Lá no Paraguai tem plantação de menta e de erva mate. É necessário que todos fiquem atentos. O Amazonas, como a gente sabe, tem capim-santo como mato, como um vegetal qualquer.
Portal – O que o Amazonas pode fazer diante de uma nova realidade como essa?
Fábio – Esse é um problema a gente não resolve bloqueando o que está acontecendo em outras regiões. O que temos que fazer é buscar um modelo de desenvolvimento bastante agressivo. A região Norte vai crescer demais quando o Estado do Amazonas acordar. O Amazonas é o que mais tem a ganhar e o que mais tem a perder se não tomar uma iniciativa forte e moderna agora. Não se trata de extinguir o modelo ZFM, mas, sim, renová-lo. O PIM vive um momento de instabilidade preocupante. Os polos relojoeiro e termoplástico sofreram quedas preocupantes, o polo de duas rodas também está pelas tabelas. O polo eletroeletrônico vai mal por causa de uma questão de mudança cultural. É que os jovens hoje não querem mais ver televisão, eles dispõem de tudo na Internet. Cada vez mais haverá fusão de tecnologias e é preciso o Amazonas despertar para isso. A linha branca também está mudando em todo o país. Vários tipos de eletrodomésticos serão abolidos em breve. São atividades que decaem, abrindo espaços para novas atividades emergentes no mundo. E quando se fala em tecnologia, fala-se não apenas em tecnologia da informação, mas tecnologia de desenvolvimento genético, tecnologia de biociência, tecnologia de robótica, tecnologia farmacêutica. O Amazonas está fazendo gestões para atrair essas tecnologias para substituírem atividades que já decaíram no PIM ? Essa é a pergunta que se impõe.
Fábio – Fala-se muito, mas o que se está fazendo para tornar Manaus uma cidade realmente atrativa para o turismo internacional ?.Houve algumas providências por parte da iniciativa privada com a construção de hotéis de selva. Não houve mais nada. Enquanto isso, há duas semanas Curitiba ganhou da BBC de Londres um prêmio por ser uma das dez cidades com melhor qualidade de ar no mundo. Curitiba foi distinguida por possuir grande infraestrutura de opções para o turista se divertir, com seus parques e opções de diversão noturna. Esse prêmio bem que poderia distinguir Manaus, que tem vocação natural para tanto. Mas, Manaus exige investimentos nesse sentido, exige a renovação do modelo ZFM.
Portal – O Estado do Amazonas está acomodado e ainda terá que enfrentar uma nova guerra fiscal contra os estados do Sul e do Sudeste por conta dos produtos de informática cujas tecnologias se dinamizam a cada instante. O senhor não concorda?
Fábio – A tendência é desaparecer a fronteira entre o que é e não é bem de informática. A tecnologia da informação está presente hoje em todos os processos empresarias e, basicamente, do ponto de vista fiscal, o Governo Federal força a barra para que se use nota fiscal eletrônica, escrituração fiscal eletrônica. Isso é algo que vai evoluir de forma muito rápida. Mas, quanto a questão da guerra fiscal, ela continuará a existir, sem dúvida. O que o Amazonas tem que fazer é sair do discurso para a prática. Há trinta anos se fala que o Amazonas tem potencial turístico. No entanto, o Estado nunca saiu do potencial. Estados como Paraná e Santa Catarina conseguiram sair do discurso buscando, inclusive, recursos internacionais. O Amazonas tem que fazer o seu dever de casa e ir além das facilidades dos incentivos fiscais que possui há cinqüenta anos. O governador José Melo parece disposto a acender uma luz no fim desse túnel histórico.
Por J Taketomi, editor de Política do PORTAL DO ZACARIAS
PORTAL DO ZACARIAS – O governador José Melo acaba de reassumir o governo anunciando um plano estratégico de desenvolvimento que, dentre outras coisas, pretende mudar a geografia econômica do Estado, investindo na duplicação da Estrada AM-010 e transformando o Porto de Itacoatiara em referência portuária na região Norte. Essa é a estratégia certa para o Amazonas?
Fábio Lampert – Alguns estados brasileiros já tiraram seus principais portos das capitais, colocando-os em regiões limítrofes de suas áreas metropolitanas. Isso é extremamente positivo, pois é um movimento de atualização, inclusive tecnológica. A estrutura do Porto de Manaus está ultrapassada e requer um investimento muito grande. O governador José Melo, então, está correto ao investir no Porto de Itacoatiara. Ele faz seu movimento de atualização. A área do Porto de Itacoatiara, na beira do Rio Amazonas, recebe navios de grande calado de forma perene. Eu sugiro que o governador, além da duplicação da AM-10, pense também na construção de uma ferrovia, a exemplo do que existe em Paranaguá, no Paraná, onde as cargas mais pesadas são escoadas por ferrovia. A ferrovia é um meio de transporte eficiente e barato.
Portal – A ferrovia não seria, igualmente, a solução para o problema do asfaltamento de um trecho de 400 quilômetros da BR-319 (Manaus-Porto Velho), fonte de polêmica que se arrasta há anos por implicar questões ambientais que nunca se resolvem?
Fábio – Sim, cabe uma ferrovia de alta velocidade na questão da BR-319, capaz de transportar cargas e até passageiros, em uma velocidade maior. É uma questão de custos. Europa, Estados Unidos e Canadá não abandonaram as ferrovias, uma excelente opção de transporte de baixo custo barato de carga. O Estado do Amazonas economizaria muito com uma ferrovia, que eliminaria frotas e mais frotas de caminhões movidos a diesel. O petróleo é caro e poluente, e, logo, a ferrovia rodovia se impõe por ser uma solução verde e mais econômica.
Portal – Os empresários do Polo Industrial de Manaus exigem, das autoridades estaduais e federais, providências imediatas em termos de logística de transporte, sob pena de o PIM definhar mais do que já está ocorrendo. Como o senhor vê essa questão?
Fábio – Em primeiro lugar, o PIM está muito pressionado pelo desenvolvimento muito acelerado da China. E existe agora o fator Paraguai, que não está sendo muito badalado na imprensa de Manaus, mas é uma ameaça real ao PIM. O Paraguai, que está crescendo muito do ponto de vista industrial, abriga 123 empresas brasileiras que importam produtos sem pagar nenhuma taxa e os exportam para o Mercosul.
“Além da duplicação da AM-10, o governador José Melo deve pensar também na construção
de uma ferrovia, a exemplo do que existe em Paranaguá, no Paraná, onde as cargas mais
pesadas são escoadas por ferrovia. A ferrovia é um meio de transporte eficiente e barato”
Portal – Isso é uma ameaça real à Zona Franca de Manaus.
Fábio – Sim, é uma ameaça real que está sendo fortemente observada pela Federação das Indústrias do Paraná e pela Federação do Estado do Mato Grosso que já enviaram comitivas de empresários para verificarem possibilidades de investimentos no lado paraguaio. A indústria sulista está pressionada e procura novas alternativas para vender produtos a custos mais baixos e manter sua competitividade no cenário internacional. O Paraguai é uma saída para essa indústria, e um outro país que caminha nesse sentido é o Uruguai. O Paraguai tem a vantagem da energia, tem a Hidrelétrica de Itaipu. Ele não tem porto, mas tem aeroporto e energia elétrica de sobra, e tem baixa carga tributária. Também conta com boa mão-de-obra, próximo que é de estados como Paraná e São Paulo, sem contar os brasiguaios, cerca de 300 mil brasileiros que vivem no Paraguai. À medida em que mais empresas se instalam lá, mais pessoas migram em busca de empregos. A fronteira é aberta. Isso acaba sendo uma ameaça séria ao modelo ZFM.
Portal – Antes, se falava no Paraguai apenas por causa do seu “importabando” a partir da fronteira Foz do Iguaçu/Ciudad Del Este. Mas, agora, o Paraguai se apresenta como um agente de real perigo às vantagens comparativas da nossa ZFM?
Fábio – Sim. Horácio Cartes, que é o atual presidente do Paraguai, tem uma visão empresarial e está mostrando que quer transformar o país num local de investimentos. O Paraguai mantém acordo de preferência comercial com a União Européia e está firmando outro com os Estados Unidos. O plano é transformar o Paraguai numa plataforma de exportações no Mercosul. Não devemos esquecer que recentemente Cartes esteve em Brasília, acompanhado de seus ministros, e recepcionou mais de 170 empresários brasileiros em evento promovido na capital paraguaia. No evento, o presidente cumprimentou a todos pessoalmente e deixou claro que quer saber onde queremos investir e de que forma desejamos fazê-lo. Adicionalmente, também há uma atividade agrícola importante envolvendo os ‘brasiguaios’. Lá no Paraguai há plantações de soja, algodão, menta e capim-limão, que é nosso conhecido capim-santo. Desse capim é extraído o óleo de citronela, utilizado para toda a indústria cosmética e farmacêutica. Ele é largamente consumido e o processamento desse óleo é feito dentro do Paraguai. O óleo é acondicionado em tambores de aço inoxidável e exportado para várias partes do mundo. Lá no Paraguai tem plantação de menta e de erva mate. É necessário que todos fiquem atentos. O Amazonas, como a gente sabe, tem capim-santo como mato, como um vegetal qualquer.
Portal – O que o Amazonas pode fazer diante de uma nova realidade como essa?
Fábio – Esse é um problema a gente não resolve bloqueando o que está acontecendo em outras regiões. O que temos que fazer é buscar um modelo de desenvolvimento bastante agressivo. A região Norte vai crescer demais quando o Estado do Amazonas acordar. O Amazonas é o que mais tem a ganhar e o que mais tem a perder se não tomar uma iniciativa forte e moderna agora. Não se trata de extinguir o modelo ZFM, mas, sim, renová-lo. O PIM vive um momento de instabilidade preocupante. Os polos relojoeiro e termoplástico sofreram quedas preocupantes, o polo de duas rodas também está pelas tabelas. O polo eletroeletrônico vai mal por causa de uma questão de mudança cultural. É que os jovens hoje não querem mais ver televisão, eles dispõem de tudo na Internet. Cada vez mais haverá fusão de tecnologias e é preciso o Amazonas despertar para isso. A linha branca também está mudando em todo o país. Vários tipos de eletrodomésticos serão abolidos em breve. São atividades que decaem, abrindo espaços para novas atividades emergentes no mundo. E quando se fala em tecnologia, fala-se não apenas em tecnologia da informação, mas tecnologia de desenvolvimento genético, tecnologia de biociência, tecnologia de robótica, tecnologia farmacêutica. O Amazonas está fazendo gestões para atrair essas tecnologias para substituírem atividades que já decaíram no PIM ? Essa é a pergunta que se impõe.
Fábio Lampert com o jornalista Juscelino Taketomi na Redação do PORTAL DO ZACARIAS:
“A indústria sulista está pressionada e procura novas alternativas para vender produtos
a custos mais baixos e manter sua competitividade no cenário internacional. O Paraguai é uma
saída para essa indústria. O Paraguai tem a vantagem da energia, tem a Hidrelétrica de Itaipu"
(Fotos: Dayse Nunes / Portal do Zacarias)
Portal – Fala-se no Amazonas como um polo internacional de turismo.
Fábio – Fala-se muito, mas o que se está fazendo para tornar Manaus uma cidade realmente atrativa para o turismo internacional ?.Houve algumas providências por parte da iniciativa privada com a construção de hotéis de selva. Não houve mais nada. Enquanto isso, há duas semanas Curitiba ganhou da BBC de Londres um prêmio por ser uma das dez cidades com melhor qualidade de ar no mundo. Curitiba foi distinguida por possuir grande infraestrutura de opções para o turista se divertir, com seus parques e opções de diversão noturna. Esse prêmio bem que poderia distinguir Manaus, que tem vocação natural para tanto. Mas, Manaus exige investimentos nesse sentido, exige a renovação do modelo ZFM.
Portal – O Estado do Amazonas está acomodado e ainda terá que enfrentar uma nova guerra fiscal contra os estados do Sul e do Sudeste por conta dos produtos de informática cujas tecnologias se dinamizam a cada instante. O senhor não concorda?
Fábio – A tendência é desaparecer a fronteira entre o que é e não é bem de informática. A tecnologia da informação está presente hoje em todos os processos empresarias e, basicamente, do ponto de vista fiscal, o Governo Federal força a barra para que se use nota fiscal eletrônica, escrituração fiscal eletrônica. Isso é algo que vai evoluir de forma muito rápida. Mas, quanto a questão da guerra fiscal, ela continuará a existir, sem dúvida. O que o Amazonas tem que fazer é sair do discurso para a prática. Há trinta anos se fala que o Amazonas tem potencial turístico. No entanto, o Estado nunca saiu do potencial. Estados como Paraná e Santa Catarina conseguiram sair do discurso buscando, inclusive, recursos internacionais. O Amazonas tem que fazer o seu dever de casa e ir além das facilidades dos incentivos fiscais que possui há cinqüenta anos. O governador José Melo parece disposto a acender uma luz no fim desse túnel histórico.
Vereador denúncia na Aleam comércio ilegal em Tabatinga
Atraso de pagamento
Acendeu uma luz amarela entre as empreiteiras que constroem para o Minha Casa Minha Vida. Não por causa do atraso de alguns dias nos pagamentos devidos pelo governo. Mas por sinais emitidos pela Caixa Econômica Federal de que os pagamentos de dezembro vão atrasar muito mais.
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