Kennedy Alencar (*)
Os protestos deste
domingo enfraqueceram mais o governo Dilma Rousseff, que já vive crises
política e econômica.
Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel
Rossetto (Secretaria Geral da Presidência) receberam a missão de falar com a
imprensa a respeito das manifestações. Disseram que os atos foram vistos com
naturalidade. Cardozo negou que o governo tenha se fragilizado.
É claro que, publicamente, eles não admitiriam outro
cenário. Mas, em conversas de bastidores, auxiliares do Palácio do Planalto têm
consciência da erosão do capital político de Dilma, do PT e do ex-presidente
Lula.
Desde que foi eleita, a presidente vem perdendo força. Uma
pesquisa do Datafolha realizada em fevereiro já indicava isso. E os atos de
hoje mostram claramente o enfraquecimento gradual do governo.
Dilma vive um ciclo vicioso: notícias ruins da política
contaminam a economia e notícias ruins da economia contaminam a política. Nesta
segunda, o mercado financeiro deverá reagir aos protestos.
Cardozo insistiu neste domingo na palavra “diálogo”. Mas a
presidente tem dito que está aberta a conversas desde que ganhou as eleições.
Falta, de fato, começar a dialogar.
Mais uma vez, o governo prometeu que irá discutir uma
reforma política. É assim desde o governo Fernando Henrique Cardoso: quando há
crise, o tema volta à tona.
Mas para aprovar a reforma é preciso negociar com o
Congresso Nacional, partidos políticos e oposição. Dilma não fez isso em junho
e julho de 2013 nem quando foi reeleita. Ao contrário: tentou isolar o PMDB e
colheu uma derrota na presidência da Câmara.
O discurso do governo neste domingo é surrado, já foi usado
em outras ocasiões.
Parece mais uma tentativa para ganhar tempo enquanto Dilma
e seus ministros elaboram alguma estratégia de ação. Mas esse é o estilo da
presidente. Ela demora para tomar decisões e não delega tarefas a seus
auxiliares. Cria uma paralisia no governo.
Dilma já poderia ter lançado o pacote de propostas de
combate à corrupção anunciado hoje. Também já deveria ter indicado o substituto
de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal.
Na economia, há duas frentes de ação: o governo vai tentar
aprovar o pacote de medidas econômicas no Congresso Nacional e manter a fórmula
de reajuste real do salário mínimo acima da inflação.
Mas é preciso restabelecer uma relação produtiva com os
deputados e senadores. Isso pressupõe uma reforma ministerial. A atual equipe
de Dilma já envelheceu.
O ministério foi montado pra tentar enfrentar os
desdobramentos da Lava Jato e isolar o PMDB. O resultado foi a união da crise
econômica e política. Tudo que Dilma não precisa neste momento é mais uma
crise, como uma onda de protestos de rua contra o governo para gerenciar.
(*) É jornalista dedicado principalmente aos assuntos de
política e economia
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